DISPLATE

domingo, 18 de dezembro de 2016

QUE VENHA O NATAL....


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Os animais do presépio

Salve, reino animal:
todo o peso celeste
suportas no teu ermo.

Toda a carga terrestre
carregas como se
fosse feita de vento.
Teus cascos lacerados
na lixa do caminho
e tuas cartilagens

e teu rude focinho
e tua cauda zonza,
teu pêlo matizado,

tua escama furtiva,
as cores com que iludes
teu negrume geral,
Teu vôo limitado,
teu rastro melancólico,
tua pobre verônica

em mim, que nem pastor,
soube ser, ou serei,
se incorporam num sopro.

Para tocar o extremo
da minha natureza,
limito-me: sou burro.

Para trazer ao feno

o senso da escultura,
concentro-me: sou boi.






A vária condição
por onde se atropela
essa ânsia de explicar-me

agora se apascenta
à sombra do galpão
neste sinal: sou anjo.


Carlos Drummond de Andrade
Antologia Poética, 2001
Lisboa: Publicações Dom Quixote, pp.254-5



sexta-feira, 30 de setembro de 2016

PRESÉPIO


Bate o Sino

 
Bate o sino pequenino
Sino de Belém
Já nasceu Deus menino
Para o nosso bem

Paz na Terra, pede o sino
Alegre a cantar
Abençoe Deus menino
Este nosso lar

Hoje a noite é bela
Vamos à capela
Sob a luz da vela
Felizes a rezar

Ao soar o sino
Sino pequenino
Vai o Deus menino
Nos abençoar

Bate o sino pequenino
Sino de Belém
Já nasceu Deus menino
Para o nosso bem

Paz na Terra, pede o sino
Alegre a cantar
Abençoe Deus menino
Este nosso lar

quarta-feira, 29 de junho de 2016

Natal, tempo de festa......

NATAL


De repente o sol raiou 
E o galo cocoricou: 

- Cristo nasceu! 

O boi, no campo perdido 
Soltou um longo mugido: 

- Aonde? Aonde? 

Com seu balido tremido 
Ligeiro diz o cordeiro: 

- Em Belém! Em Belém! 

Eis senão quando, num zurro 
Se ouve a risada do burro: 

- Foi sim que eu estava lá! 

E o papagaio que é gira 
Pôs-se a falar: - É mentira! 

Os bichos de pena, em bando 
Reclamaram protestando. 

O pombal todo arrulhava: 
- Cruz credo! Cruz credo! 

Brava 
A arara a gritar começa: 

- Mentira? Arara. Ora essa! 
- Cristo nasceu! - canta o galo. 
- Aonde? - pergunta o boi. 
- Num estábulo! - o cavalo 
Contente rincha onde foi. 

Bale o cordeiro também: 

- Em Belém! Mé! Em Belém 

E os bichos todos pegaram 
O papagaio caturra 
E de raiva lhe aplicaram 
Uma grandíssima surra.
Vinícius de Moraes