Os animais do presépio
Salve, reino animal:
todo o peso celeste
suportas no teu ermo.
Toda a carga terrestre
carregas como se
fosse feita de vento.
Teus cascos lacerados
na lixa do caminho
e tuas cartilagens
e teu rude focinho
e tua cauda zonza,
teu pêlo matizado,
tua escama furtiva,
as cores com que iludes
teu negrume geral,
Teu vôo limitado,
teu rastro melancólico,
tua pobre verônica
em mim, que nem pastor,
soube ser, ou serei,
se incorporam num sopro.
Para tocar o extremo
da minha natureza,
limito-me: sou burro.
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